20 outubro 2010

Definitivo - Drumond

Definitivo, como tudo o que é simples. 
Nossa dor não advém das coisas vividas,
 
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos 
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
 
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
 
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
 
tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que
 
gostaríamos de ter compartilhado
 e não compartilhamos. 
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas 
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
 
amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os 
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
 
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo 
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
 
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Por que sofremos tanto por amor? 
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
 
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
 
companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um 
verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!! 
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
 
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
 
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
 
sofrimento,perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. 
O sofrimento é opcional….
Carlos Drummond de Andrade

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